Logo que a Bruna nasceu e nós viemos morar no Santos Dumont, a minha mãe um belo dia chegou em casa com uma muda de jabuticabeira.
Que legal, pensei, a árvore vai crescer junto com a Bruna e um dia teremos deliciosas jabuticabas, E a plantamos, no quintal, perto da janela do nosso quarto. E ali ficou, sendo regada de vez em quando, e crescendo devagar.
O tempo foi passando, a Bruna cresceu e a árvore também. Tornou-se uma jabuticabeira frondosa, e depois de alguns anos começamos a imaginar quando será que ela iria nos presentear com seus frutos. Cinco, dez, quinze anos e nada das esperadas jabuticabas. As jabuticabeiras dos vizinhos pretejavam de frutos doces, enquanto a nossa... folhas e ramos. Começamos a nos preocupar, e a perguntar: “Quando será que a nossa jabuticabeira vai frutificar?” Aos poucos, até nossos amigos foram se inteirando do caso da jabuticabeira que não dá frutos. E surgiram idéias: “Vai ver é uma jabuticabeira do mato”, disse um, “que só produz após quase vinte anos”. Credo! Os meus futuros netos hão de aproveitar seus frutos, pensei. Aí a Arlene, que na época trabalhava conosco (Bons tempos!!!) sugeriu uma simpatia: teria-se que pegar um pedaço de pau e aplicar uma surra na árvore – infalível, segundo ela. Como eu demonstrasse dúvida. Ela assegurou: Você vai ver, logo a árvore estará com seus galhos pretinhos de tantos frutos. Então, morrendo de pena, armei-me de um pau (confesso, de uma varinha, com dó da árvore) e sapequei-lhe uma meia dúzia de varadas, acabrunhada de executar ato tão covarde contra uma pobre e indefesa planta. Logo eu, que não mato mais que uma barata! Bem, não sei se foi a má vontade com que apliquei o corretivo, ou a árvore era teimosa mesmo – não adiantou. Os dias e meses se passaram e nada dos frutos. Então um dia, conversando com o Lenon em nossos papos de final de semana, ele sugeriu que amarrássemos arames em seus galhos. “Vi isso no Globo Rural”, disse ele – “você amarra arames apertados em seus galhos e o metal em contato com a casca acaba por estimular a produção de frutos”. Pronto. Lá vou eu, alicate em punho, pedaços de arame, fazer o sugerido. Árvore devidamente decorada, parecendo uma perua em dia de festa, aguardamos a frutificação. Um mês, dois... nada.
Ocorre que, eu outro canto do quintal, bem próximo ao poste do varal, nasceu uma pequena planta. Olhei, e imaginei que fosse uma pitangueira, pois temos uma nos fundos do quintal e às vezes a gente se delicia com seus frutos e joga as sementes por aí. Por diversas vezes pensei em arrancar aquela arvorezinha, pois que iria futuramente atrapalhar o nobre ato de colocar roupas no varal. Mas acabei deixando. E enquanto a gente sonhava e se preocupava com a ausência de frutos da jabuticabeira, a pequena “pitangueira” ia crescendo, despreocupada e sem a pressão de que um dia quiséssemos ver seus frutos...
Eis que (lembrança do curso, kkk) um belo dia eu ia passando ao lado da “pitangueira”, já uma adolescente, aproximadamente da minha altura – e olho para os seus galhos, e o que vejo? Pequenos botões colados ao seu tronco, sugerindo possíveis frutos. Olho atentamente: pitangueira não dá frutos desse jeito! Chamei a Bruna, examinamos: nossa pequena pitangueira é, na verdade, uma jabuticabeira! E para comprovar o fato, alguns dias depois se abriu uma pequena flor como uma pluma branca, e em seguida a primeira jabuticaba surgiu, verde-clara e promissora.
Assim foi. Enquanto a primeira jabuticabeira um dia finalmente exibiu seu primeiro fruto – um único, e nunca mais – a pequena jabuticabeira-pitangueira já nos presenteou com meia dúzia de frutos negros e doces, degustados com carinho e satisfação.
Aí vem a moral da história: também as pessoas são assim: muitas vezes aquelas que se proclamam amigas, que se anunciam aos quatro ventos, que se mostram grandes, imponentes, na hora em que mais precisamos não nos oferecem mais do que galhos e folhas, enquanto aquela pessoinha tímida, que não vive se vangloriando nem se acha a rainha da cocada preta, essa, sim; nos dá o apoio verdadeiro e a amizade mais preciosa, fruto doce e substancioso.
Que venham as minúsculas “pitangueiras-jabuticabeiras”, que surpreendem em sua simplicidade. É dessas que precisamos, para que a vida seja mais doce e saborosa. Sejam árvores ou pessoas, é elas que dão sentido às nossa vidas. E quanto à primeira jabuticabeira, bem... continuamos esperando sua primeira grande safra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário