quinta-feira, 24 de maio de 2012

HOUVE UM TEMPO...





Houve um tempo em que eu sorria com facilidade e quase nunca chorava e quando chorava era mais de alegrias.

Houve um tempo em que eu não tinha tempo para me preocupar.

Houve um tempo que eu parava para observar a natureza; para atender minhas vontades, para brincar, para abraçar um amigo, jogar conversas ao vento, para deixar as tarefas para depois e ler um livro, para dar de presente esse mesmo livro.

Houve um tempo em que eu era a melhor pessoa para ser companhia, para acompanhar o desfecho de uma história e dar o meu ponto de vista.

Houve um tempo em que eu falava com Deus, como quem fala com o melhor amigo.

Houve um tempo em que eu amava a humanidade e acreditava que éramos realmente irmãos.

Houve um tempo que as flores coloriam minha vida, houve um tempo que eu sonhava com o tempo ao contrário, que ele traria o meu amor e seria para sempre.

Houve um tempo em que eu falava sem pensar, mas nunca magoava ninguém, hoje penso e magoo mesmo assim.

Houve um tempo em que eu era criança e queria ser gente grande.

Houve um tempo em que eu não sabia que os pais morreriam, eu acreditava que eles nos acompanhariam por toda vida.

Houve um tempo em que dormíamos de janelas abertas vendo as estrelas e a lua.

Houve um tempo que televisão era diversão, não companhia.

Houve um tempo que andávamos nas ruas, nas estradas e não precisávamos pagar.

Houve um tempo em que a palavra era sim ou não, simples assim.

Houve um tempo em que fui imensamente feliz.

Houve um tempo...

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Adriana A. Polak (Página Universo de Emoções)

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CANÇÃO DOS CARACÓIS

Canção dos caracóis que vão ao enterro, por Jacques Prévert

Ao enterro de uma folha morta
Encaminham-se dois caracóis
Eles têm a concha preta
E crepe ao redor das antenas
Caminham ao anoitecer
Um belo anoitecer de outono
Quando chegam porém
Já é primavera
As folhas que estavam mortas
Ressuscitaram todas
E os dois caracóis
Ficam muito desapontados
Mas eis que o sol
O sol lhes diz
Por favor por favor
Sentem-se
Tomem um copo de cerveja
Se estiverem com vontade
Peguem se quiserem
O ônibus para Paris
Ele parte esta noite
Vocês conhecerão uma boa parte do país
Mas não fiquem de luto
Sou eu quem vos digo
Escurece o branco dos olhos
E enfeia
As histórias de caixões
São tristes e nada bonitas
Retomem vossas cores
As cores da vida
E então todos os bichos
As árvores e as plantas
Começam a cantar
A cantar à plena voz
A verdadeira canção viva
A canção do verão
E todos bebem
Todos brindam
É um entardecer muito bonito
Um entardecer de verão
E os dois caracóis
Voltam para casa
Vão muito emocionados
Vão muito felizes
Como beberam muito
Eles cambaleiam um pouco
Mas lá no alto do céu
A lua olha por eles.

Canção dos caracóis que vão ao enterro, por Jacques Prévert


quarta-feira, 23 de maio de 2012

DESEJOS





Desejos...

"Desejo a você
Fruto do mato 
Cheiro de jardim 
Namoro no portão 
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu."

(Carlos Drumonnd de Andrade)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Novidade! Nossa jabuticabeira, aquela que sofreu todo tipo de simpatias para ver se decidia-se a frutificar, está cheia de botões! Que maravilha! Será a sua primeira carga de frutos.



Estamos no outono! Nossos pés de mexericas estão carregados de frutos dourados,  as poinsétias começam a colorir suas folhas. O céu anda azul e límpido, com nuvens finas como fiapos de algodão. Dá vontade de andar por aí,  desfrutando da beleza da estação. O nosso chuchuzeiro, que havia secado, reviveu e já nos deu vários frutos.  Amo o outono. Suas cores nítidas e surpreendentes  enchem o coração de alegria. E até um friozinho com jeito de pré-inverno já apareceu!