MEG
Ela entrou em nossas vidas há cerca de quatro anos, no mês de maio. Ficou durante uma semana perdida na rua de nossa casa, indo para cá e para lá. Passou uns dias na casa da Teresa, que não a quis adotar. Então ficou uns dias diante da casa da Vivian, que, com dó, dava-lhe as sobras de comida. Seu dono nunca apareceu, embora as crianças da rua procurassem. Minha mãe foi quem a viu primeiro, e passou a dar-lhe as sobras da comida dos nossos cachorros. Ela até comentou que havia uma cachorrinha perdida na rua, mas eu e Bruna nem demos muita bola. Isso, até o domingo do Dia das Mães: nesse dia ela chegou ao portão de casa, e a Bruna, que saía com a Naiara, abriu o portão – e ela entrou. Marrom, magricelinha, espevitadinha, com uma coleira no pescoço. Agiu como se estivesse na casa dela: olhou todo o quintal, cheirou aqui e ali, correu atrás de nós. Minha mãe logo avisou: Nem pensem em ficar com ela! Não, não e não! Mas a Bruna resistiu: sim, sim e sim! Ela é uma gracinha, e está perdida, deixa?... com aquele jeito de neta que consegue o que quer da avó – eu digo que avós adoram estragar os netos, deixa eu ter um neto, vou mimá-lo tanto...!!! – mas, enfim, a Meg ficou.
Logo fez amizade com o Bingo, cachorrinho da vizinha que era da sua idade, e o trazia (literalmente, arrastando-o pela coleirinha) para brincar no quintal, por um buraco na cerca. Conquistou os nossos corações: era meiga, doce, carinhosa.
Uns dois anos depois, uma semana antes da Páscoa, a Meg ficou seriamente doente. Não comia nada, emagrecia, tinha falta de ar. Apesar dos remédios que compramos numa loja veterinária, nada dela melhorar. Então chamamos o Dr. Rogério, que veio na quinta-feira, nós esperando numa ansiedade danada, ligamos várias vezes.
Ele veio, examinou-a, achou-a magrinha, ministrou-lhe uma injeção na veia, receitou vários medicamentos e uma vitamina. À noite, ela deitada perto do sofá, eu e Bruna choramos, pensando que íamos perdê-la. Mas seguimos à risca o tratamento: os remédios, a vitamina... dávamos sorinho na boca com uma seringa, eu batia fígado cru com ovo no liquidificador e aplicávamos na garganta dela com uma seringa sem agulha.
Eu dava soro e alimentos a ela a cada quinze minutos, a sexta-feira santa o dia inteiro, e à noite. No sábado ela pareceu melhorar, e, à tarde, para nossa felicidade, ela começou a comer um pouquinho. Que maravilha! Voltávamos a ser felizes. A idéia de perder nossa Meg tinha tirado toda a alegria de viver. Ora, poderão dizer, é só uma cachorrinha! Mas a Meg não é só uma cachorrinha: ela é uma grande amiga. Ela se tornou tão grudada na gente que onde quer que a gente vá, ela vai junto: na sala, no quarto, no quintal. É com ela que converso quando estou sozinha em casa, é ela que me saúda alegremente quando levanto pela manhã e saio do meu quarto. É meiga, é doce, é um amorzinho. Se estivermos com ela na frente da minha casa, ela fica pertinho de nós, e, ao contrário dos outros cachorros da rua, não persegue transeuntes nem ciclistas. O máximo que ela faz é lançar um olharzinho crítico e fazer um “Uof” meio aborrecido e olhar para nós, como a espera de uma decisão. Às vezes é temperamental, e quando nossos amigos vêm acariciá-la ela solta um rosnado. É quando ela está de mau humor. Conosco, no entanto, nunca está e mau humor, e mesmo com os outros ela é boa-praça, e adora que lhe cocem as costas.
É nossa companheira ativa de aventuras, de passeios, de caminhadas pelas matas, de trilhas e de cachoeiras.
Aliás, nesse momento em que escrevo, ela está aos meus pés, me fazendo companhia. E sou muito feliz por essa companhia, pois ela é uma amigona! Espero que nossa amizade dure muitos anos, e mesmo se um dia ela faltar (nem posso pensar nisso, hoje!) a Meg sempre viverá em nossos corações. Amamos você, Meg querida!