quinta-feira, 28 de abril de 2011


MEG

            Ela entrou em nossas vidas há cerca de quatro anos, no mês de maio. Ficou durante uma semana perdida na rua de nossa casa, indo para cá e para lá. Passou uns dias na casa da Teresa, que não a quis adotar. Então ficou uns dias diante da casa da Vivian, que, com dó, dava-lhe as sobras de comida.  Seu dono nunca apareceu, embora as crianças da rua procurassem.  Minha mãe foi quem a viu primeiro, e passou a dar-lhe as sobras da comida dos nossos cachorros. Ela até comentou que havia uma cachorrinha perdida na rua, mas eu e Bruna nem demos muita bola. Isso, até o domingo do Dia das Mães: nesse dia ela chegou ao portão de casa, e a Bruna, que saía com a Naiara, abriu o portão – e ela entrou. Marrom, magricelinha, espevitadinha, com uma coleira no pescoço. Agiu como se estivesse na casa dela: olhou todo o quintal, cheirou aqui e ali, correu atrás de nós. Minha mãe logo avisou: Nem pensem em ficar com ela! Não, não e não! Mas a Bruna resistiu: sim, sim e sim! Ela é uma gracinha, e está perdida, deixa?... com aquele jeito de neta que consegue o que quer da avó – eu digo que avós adoram estragar os netos, deixa eu ter um neto, vou mimá-lo tanto...!!! – mas, enfim, a Meg ficou.
            Logo fez amizade com o Bingo, cachorrinho da vizinha que era da sua idade, e o trazia (literalmente, arrastando-o pela coleirinha) para brincar no quintal, por um buraco na cerca. Conquistou os nossos corações: era meiga, doce, carinhosa.
            Uns dois anos depois, uma semana antes da Páscoa, a Meg ficou seriamente doente. Não comia nada, emagrecia, tinha falta de ar. Apesar dos remédios que compramos numa loja veterinária, nada dela melhorar. Então chamamos o Dr. Rogério, que veio na quinta-feira, nós esperando numa ansiedade danada, ligamos várias vezes.
            Ele veio, examinou-a, achou-a magrinha, ministrou-lhe uma injeção na veia, receitou vários medicamentos e uma vitamina. À noite, ela deitada perto do sofá, eu e Bruna choramos, pensando que íamos perdê-la. Mas seguimos à risca o tratamento: os remédios, a vitamina... dávamos sorinho na boca com uma seringa, eu batia fígado cru com ovo no liquidificador e aplicávamos na garganta dela com uma seringa sem agulha.
Eu dava soro e alimentos a ela a cada quinze minutos, a sexta-feira santa o dia inteiro, e à noite. No sábado ela pareceu melhorar, e, à tarde, para nossa felicidade, ela começou a comer um pouquinho. Que maravilha! Voltávamos a ser felizes. A idéia de perder nossa Meg tinha tirado toda a alegria de viver. Ora, poderão dizer, é só uma cachorrinha! Mas a Meg não é só uma cachorrinha: ela é uma grande amiga. Ela se tornou tão grudada na gente que onde quer que a gente vá, ela vai junto: na sala, no quarto, no quintal. É com ela que converso quando estou sozinha em casa, é ela que me saúda alegremente quando levanto pela manhã e saio do meu quarto. É meiga, é doce, é um amorzinho. Se estivermos com ela na frente da minha casa, ela fica pertinho de nós, e, ao contrário dos outros cachorros da rua, não persegue transeuntes nem ciclistas. O máximo que ela faz é lançar um olharzinho crítico e fazer um “Uof” meio aborrecido e olhar para nós, como a espera de uma decisão. Às vezes é temperamental, e quando nossos amigos vêm acariciá-la ela solta um rosnado. É quando ela está de mau humor. Conosco, no entanto, nunca está e mau humor, e mesmo com os outros ela é boa-praça, e adora que lhe cocem as costas.
            É nossa companheira ativa de aventuras, de passeios, de caminhadas pelas matas, de trilhas e de cachoeiras.
            Aliás, nesse momento em que escrevo, ela está aos meus pés, me fazendo companhia. E sou muito feliz por essa companhia, pois ela é uma amigona! Espero que nossa amizade dure muitos anos, e mesmo se um dia ela faltar (nem posso pensar nisso, hoje!)  a Meg sempre viverá em nossos corações. Amamos você, Meg querida!
           

segunda-feira, 25 de abril de 2011


MEMÓRIA (OU A FALTA DELA)

Segundo as enciclopédias, a memória é responsável pela capacidade de adquirir armazenar e consolidar as informações.  É, mas às vezes a nossa memória nos prega umas peças muito das sem graça...
Vinha eu pela rua; havia saído há pouco do trabalho, cansada depois de um dia cheio... o sol se pondo ia dando ao céu uma tonalidade laranja, e a rua estava repleta de  transeuntes, uns fazendo caminhada em seus trajes esportivos, outros indo para o colégio, em sua maioria jovens...  Eis que vem, ao meu encontro, uma pequena família: uma senhora, mais jovem do que eu, uma moça, e um garotinho pedalando alegremente uma bicicleta. Nada mais normal: uma pequena família aproventando a tarde. Mas percebo que a jovem senhora, de cabelos louros presos num rabo de cavalo e uma elegante roupa de caminhada, abre o maior sorriso para mim, como se me conhecesse de longa data. Disfarço e olho para os lados: sem dúvida, é comigo, uma vez que não há ninguém mais por perto. Então a moça se aproxima, e estaca diante de mim:
-Oi, Ilca!! Há quanto tempo! Como você está?
“Bem, raciocino, ela me conhece, até sabe o meu nome. Mas quem é ela?” Observo-a atentamente: pele bronzeada, cabelo bem cuidado, rosto simpático. Brincos delicados e de bom gosto, tênis de marca. A moça ao seu lado sorri também, me cumprimenta. Deve ter uns vinte anos, é bonita e também está muito bem vestida. O garotinho ao seu lado deve ser filho ou irmãozinho, uns três anos de idade, uma criança bem cuidada e de expressão feliz.
- Estou bem, apresso-me em responder – E você?
- Eu estou bem, agora estou bem. Mas perdi o meu marido no ano passado! Ele ficou doente, foi tudo muito rápido. Mas graças a Deus comecei a frequentar uma igreja maravilhosa que me fez entender os desígnios de Deus e aceitá-los.
“Hum, pensei – quantas amigas minhas enviuvaram no ano passado? Não me recordo. Será que ela me conhece do Fórum, ou da Faculdade, ou do CEEBJA?”
- E a sua filha, como está? Deve estar moça, hein? Olhe, esta aqui é a minha – a mais velha. – aponta para a moça sorridente - Já sou avó, este é meu neto!
“Ela conhece minha filha!” penso, revirando os miolos para tentar me lembrar – “Deve ser... da faculdade...”
- Ah! Que gracinha, balbucio meio perdida. Não me lembro! Quem é ela?
- Você está dando aula? Você se formou, não? – quer saber a gentil criatura. Hum, reflito,  é mesmo da faculdade que ela me conhece... deve ser.
- Sim, me formei.  Mas não estou dando aula, explico.
-Ah! Eu me formei, também. Mas não estou trabalhando, diz ela. Decido tentar uma jogada:
- Onde você está morando?, indago. Agora, pelo menos, se ela me der o endereço, talvez eu me lembre...
- No mesmo lugar de sempre! Você precisa aparecer lá qualquer dia, prá gente conversar.
Claro! No mesmo lugar de sempre! Que bonito... Se ao menos eu soubesse onde! Não me lembro, não sei onde ela mora, nem sei seu nome! Que vontade de perguntar, mas e o mico? Uma senhora tão simpática, já pensou ela me olhando abismada porque eu não me lembro quem ela é? Ela, que veio ao meu encontro toda alegre, que sabe meu nome, que conhece minha filha? Não, não posso assumir um deslize desses da minha (péssima) memória.
- Olha, eu já vou indo, a gente vai caminhar um pouco! Tudo de bom para você, dê um abraço na sua mãe e um beijão na sua filha. E vê se aparece em casa, vou te esperar! Num sábado ou noum domingo, quando você quiser! Vamos ter muito o que conversar!
Céus! Ela também conhece a minha mãe!! E eu não sei quem é!!! Maldita memória preguiçosa! Acordem neurônios! E, por Deus, o que teremos para conversar? Fomos colegas de escola? Confidentes? Vizinhas?  Trabalhamos juntas?
Bom, o fato é que ela se despediu acenando alegremente, insistindo para que eu fosse à casa dela. O que até hoje não fiz, por motivos óbvios – ainda não me lembrei quem é. Que me perdoe essa minha amiga, mas fui traída pela memória. Uma pessoa tão simpática deveria ter ficado, no mínimo, registrada em minha memória! Mas que culpa tenho eu se Tico e Teco estavam hibernando? Dizem que peixe faz bem ao cérebro. Vou começar a comer muito peixe!

quarta-feira, 20 de abril de 2011



OUTONO

O outono de 2011 teve início durante o equinócio de 20 de março, às 20:21 hs, e deverá durar 92,75 dias,. ( http://www.cepagri.unicamp.br/artigos-especiais/outono.html).

Taí uma estação do ano que eu acho maravilhosa! Não sei dizer o motivo, mas o outono é a estação que mais me comove. O céu começa a ficar de um azul intenso, com nuvens esfiapadas pelo vento. O sol não tem mais aquela inclemência do verão (embora ultimamente seu calor esteja bem mais intenso), e o frio ainda não se manifestou. Algumas madrugadas mais frias, uma brisa fresca ao entardecer... e fica evidente que o inverno virá, trazendo consigo a certeza dos dias frios.
E as tardes luminosas de céu azul e folhas secas rolando pela grama trazem a estranha sensação de uma melancolia indefinida, uma saudade vaga de não sei bem o quê, alguma coisa que me faz falta e que não consigo descobrir qual é. Talvez essa sensação sutil seja lembrança de dias da infância, talvez seja desejo de possuir algum afeto que nunca tive, sei lá.
Mas embora o outono às vezes traga esse sentimento, eu ainda gosto dois dias outonais. A proximidade da Páscoa indica reflexão e fortalecimento da fé, e as folhas que caem relembram que a natureza tem o tempo de ser viçoso e exuberante e o tempo de mirrar, secar – mas ainda não de morrer, e sim renascer vigoroso na primavera. Assim como a natureza no outono, acontece com a gente - e entristecemos, perdemos o ânimo... – mas um belo dia encontramos forças para superar as tristezas, coragem para recomeçar... e as folhas verdes da esperanças rebrotam em nosso coração.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Folhas ao vento...

Blogs não nascem sozinhos. Nascem do incentivo e da ajuda de uma amiga (Valeu, Ju!!!) e da vontade de ter um cantinho só seu para colocar os pensamentos, as emoções, os momentos felizes e também os tristes, os devaneios, os sonhos...
E Folhas ao Vento... nasce quase juntamente com o outono,  a estação que traz um resquício ainda marcante do calor do verão e o prenúncio do frio do inverno, quando as folhas caem desnudando as árvores e mostrando o azul profundo do céu, e os ventos sopram com maior intensidade.
Nasce tímido como os primeiros ventos frios da estação, trazendo palavras que caem como as folhas secas, mas que sem dúvida serão o fertilizante que fará brotar do solo-papel mais e mais folhas verdes e cheias de sentimentos.
Boas vindas ao outono!